08/04/2020 - Praia Grande-SP
Nesta edição de 12 Toques com Loiacono, conversamos com o campeão mundial Nando. Fernando Jesus Ferreira tem 26 anos, é publicitário, e um dos craques da bolinha.
12 Toques: Como conheceu o esporte federado, e em quais clubes jogou? Nando: Desde uns 5, 6 anos de idade, sempre joguei botão em casa com meu pai e meus tios e na rua com meus amigos. Eu era da escolinha de futebol do Vasco e um certo dia teve um campeonato da escolinha num domingo. Era 2006, eu com 12 anos, fominha de bola, fui no antigo ginásio “Forninho” que era do lado dos campos de society, com meus amigos da escolinha pra continuar a jogar uma pelada. Pra minha surpresa, quando entro no ginásio, vejo uma quadra de salão lotada de mesas e o pessoal jogando. Achei que era miragem (risos). Todo mundo uniformizado. Era uma etapa do estadual. Fui no primeiro cara que tava com a camisa do Vasco quando pararam de jogar e perguntei como fazia pra brincar ali também. Ele me falou pra voltar na segunda a noite que era dia de treino. No começo eu tomei muita (mas muita) porrada, de 15 x 0, 16 x 1, mas era uma criança feliz por estar jogando botão. Daí pra frente muita coisa mudou né. Em 2006 comecei no Vasco e fui até 2009. Em 2010 fui pro Clube dos 500, onde montamos um time só com garotos e papai Washington, éramos o sub-20 da baixada. Jogava de tudo também: 12 toques, pastilha, dadinho. Fiquei até 2012 lá e em 2013 a convite do Dudu, Evandro e Rogerinho fui para o Ginástico, onde comecei a evoluir um pouco mais. Aprendi a jogar 3 toques e fiquei até 2015. Em 2016 eu retornei ao Vasco e estou até hoje.
12 Toques: Qual o título mais importante? Nando: Cara, difícil falar do mais importante por conta do momento em que se é jogado. Mas o Brasileiro de Clubes de 2017 foi extraordinário. Como o Victor citou em uma entrevista anterior, ninguém apostaria na gente e ainda tivemos a emoção de comemorar um gol no último chute dele. O Mundial de clubes foi sensacional também. O Mundial Individual também foi espetacular, pois foi meu primeiro título individual e logo qual né? O Sul-americano de Clubes 2016 pelo Vasco, pouca gente sabe mas eu fiz um gol no último chute também. E o Estadual de 2013 pelo Ginástico onde jogamos contra o Friburguense lá na serra. Estávamos perdendo o jogo e eu entrei na terceira rodada. Na última, o Rhani jogava na mesa do lado, meu jogo estava empate e o dele também. Eu vou pro ataque faltando uns 10 segundos e ele faz uma jogada maravilhosa e aponta a bola da meia lua. Ambos deveriam fazer o gol pra sermos campeões. Fizemos, e levamos o título.
12 Toques: E o título mais difícil? Nando: Acho que o Brasileiro de Clubes de 2017, pois a equipe tinha sido montada naquele ano com a vinda do Ednilson e do Victor e demoramos a encaixar. Foi dando certo durante o campeonato. Na final, no intervalo do jogo pro segundo tempo, o Victor olha pra todos nós e fala: “Gente, quando que a gente pode estar aqui de novo? Essa oportunidade é única. Vamos pra cima!”. E ali começou a história desse time (risos).
12 Toques: Qual ou quais Botonistas você admira? Nando: Vou ser injusto em não citar alguns. Geralmente a galera cita os tops por jogabilidade mas eu tenho um carinho enorme pelo Washington que me acolheu no 500, pelo Evandro, Dudu e Rogerinho que acreditaram em mim no Ginástico, pelo Victor e Ednílson por ser fácil demais jogar do lado deles e pelo Igor que é um incentivador extraordinário. Além disso vou citar um cara que foi multicampeão da 3 toques e jogou 12 toques também: Miguel Lemos, falecido em 2015, que sempre foi um grande amigo e me dizia para acreditar que um dia eu ia ser campeão. 12 Toques: Qual Botonista você seria se pudesse ser outra pessoa? Nando: Não desejaria ser ninguém, mas se pudesse montar um Botonista perfeito (ou quase) pra 12 toques, eu misturaria a precisão do Robertinho, a habilidade do Ednílson e a inteligência do Quinho e frieza do Thiago Penna.
12 Toques: Quem é seu freguês? Nando: Essa é fácil de responder, Pablo do Friburguense. Te amo Pablito.
12 Toques: E de quem você é freguês? Nando: Alessandro do Botafogo. 12 Toques: Equipes ou individual? Nando: Sem dúvida equipes, é muito melhor ganhar ao lado dos seus amigos. 12 Toques: Argola ou fechado? Explique! Nando: Fechado com certeza e com pin (risos). Eu sempre achei esteticamente mais bonito, porém ainda achava que faltava alguma coisa. Esses de pin vieram pra revolucionar o mercado. Acho mais precisos no toque de bola e o chute também.
12 Toques: O gol, o jogo, e viagem inesquecível? Nando: Vou contar uma historinha antes, tá bom? Em 2018 foi um ano perfeito pro departamento de Futebol de Mesa do Vasco. Ganhamos o Carioca de Clubes, o Brasileiro de Clubes, o Sul-americano de Clubes e viajamos para Portugal para tentar o Mundial de Clubes. No primeiro dia foram jogos do individual pela manhã e de clubes a tarde. No segundo dia idem e, aos poucos, eu estava avançando de fase no individual. Ok, vamos lá. Antes de tudo, pausa pro almoço e eu decido não almoçar, apenas comer um pastel de Belém (olha que ideia maravilhosa estúpida que eu tive). Pois bem, passei em segundo do meu grupo e vou enfrentar o Victor nas oitavas-de-final. Jogo tenso, ganho no último chute de 5 x 4. Em seguida enfrento o Jefferson do Palmeiras e consegui fazer um jogo muito bom, ganhei e passei de fase. Na semifinal jogo contra o Tadeu e o placar termina maravilhosamente em 2 x 2 com ambos errando muito. Decisão vai pros pênaltis. Nessa hora você pensa: eu nunca bati um pênalti na vida. Tensão no ar e eu venço nos pênaltis por 10 x 9, sem errar. A confiança vai lá no teto né (risos). Fui fazer a final com o Ednílson, no jogo mais tenso que eu já joguei na minha vida. Não podia perder aquele. Eu estava ganhando por 5 x 4 e no final ele aponta uma bola torta, não faz o gol e eu vou pro ataque. Peço pro gol, toca o sino, eu já era campeão, chuto, ainda faço o gol e comemoro por ser o melhor do mundo. Adrenalina lá em cima, pressão do corpo lá embaixo, feliz demais, você pensa em todas as suas fases do futebol de mesa. Muito louco isso né? Mas esse não é o jogo inesquecível (risos). Agora começa a melhor parte. Acabou o individual, intervalo para as equipes se organizarem e jogar o último e decisivo jogo do Mundial de Clubes: Vasco e Palmeiras. Ambos ganharam os dois jogos no grupo, mas tínhamos a vantagem do empate por termos mais vitórias individuais. Quase prontos pra começar o Ednílson simplesmente some. Até achar ele demorou um tempo. Começa a decisão de clubes. Jogo disputado até a última rodada, até que eu tomo um gol, olho pro lado e os resultados acontecendo, só dependia do meu. Saio correndo com a bola, arrumo do jeito que dá e peço pro gol. Aquele clima de final de jogo, todo mundo se pergunta “quanto foi?”, “ganhou?”, e as contas começam a serem feitas. E adivinha pra quem sobrou a responsabilidade? Precisava fazer aquele gol para empatar o meu jogo e para empatar o confronto geral. Como falei antes, era a bola do jogo, do confronto, do Mundial e do ano do Vasco. Eu vou concentrado pra bola, o canto aberto pra chutar cruzado. Antes de chutar ainda limpo uma sujeira da mesa que estava entre a bola e o botão. Chuto e faço o gol. MANO, EU FAÇO O GOL DO TÍTULO! Daí é aquela gritaria e a gente começa a comemorar, mas aí meu amigo... só tem um pastel de Belém na barriga da pessoa. Já tinha vencido o Mundial Individual umas horas atrás e no mesmo dia ganhamos o de Clubes com meu gol. Não dá, desmaio (literalmente). Vou numa ambulância e a galera depois me encontra no hospital. No sábado não jogamos e no domingo teria o confronto de seleções. Ganhei um presente muito bom: o Perrotti, que sofreu o gol, comprou uma ambulância de miniatura e me deu pra recordar esse momento pra sempre. Tá lá junto com o troféu do Mundial. E é isso, esses foram o gol, o jogo e a viagem inesquecíveis.
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