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Foto do escritorMarcello Loiacono

12 Toques com Jefferson

Atualizado: 30 de abr. de 2020


Sulamericano de Santa Rita de Calamuchita

Nesta edição de 12 Toques com Loiacono, conversamos com o craque e Multicampeão Jefferson. Jefferson do Amaral Genta é Juiz do Trabalho, tem 50 anos de idade e é um dos maiores Botonistas do Mundo.


12 Toques: Como conheceu o esporte federado, e em quais clubes jogou?

Jefferson: Comecei a jogar Botão aos 6 anos de idade, quando ganhei um Estrelão, e meu primo Marco Antônio me ensinou a jogar. Toda a molecada da minha rua e das ruas próximas jogava Botão. Fazíamos campeonatos muito organizados e disputados, em vários Estrelões, simultaneamente. Jogávamos todos os dias. A grande maioria jogava muito bem. Era bem complicado ganhar os jogos. Em 1982, quando eu tinha 12 anos, um dos meus amigos disse que no Canadá Clube (um clube pequeno, localizado no quarteirão do local onde eu morava) tinha um pessoal que jogava “Botão Profissional” e estavam fazendo torneios para iniciantes aos sábados à tarde. No primeiro sábado depois, cerca de 15 meninos entre 12 e 15 anos de idade entraram no Canadá Clube para participar do Torneio de Iniciantes. Comecei a me destacar nos Torneios de Iniciantes e uns dois ou três meses depois, o Muradian me falou para começar a treinar junto com os “Profissionais”. Após mais uns três meses, o Muradian me convidou para me filiar à FPFM e jogar pelo Canadá Clube, que estava na segunda divisão do Campeonato Paulista. Foi assim que tudo começou. Joguei no Canadá Clube a partir de 1982. Com o encerramento do departamento de Futebol de Mesa no Canadá Clube, fomos todos para a Sociedade Amigos de Vila Maria Zélia – SAVMZ, onde joguei de 1985 a 2012. Após convite do Narduche, me transferi para o Palmeiras em 2013, clube no qual jogo até hoje.

Equipe do Canadá Clube
Maria Zélia

12 Toques: Qual o título mais importante?

Jefferson: Tenho muito carinho por todos os títulos que conquistei individualmente e ajudei a conquistar, coletivamente, no Canadá Clube, no Maria Zélia, no Palmeiras e na Seleção Brasileira. Todos foram bastante difíceis de ser conquistados e, cada qual, teve seu sabor especial, em diferentes momentos da minha vida. Contudo, ser Campeão Mundial Individual e por Equipes pelo Palmeiras, meu time do coração, não tem preço. É uma emoção indescritível. Por isso eu destaco esses títulos.

Campeão Mundial por Equipes

12 Toques: E o título mais difícil?

Jefferson: Sem dúvida, o Campeonato Mundial da Hungria foi o mais “nervoso” e “complicado” que joguei. As mesas eram diferentes das nossas, o meu time principal não andava naquelas mesas e tive que optar por jogar com o Palmeiras verde-limão, que deslizava melhor, apesar de não estar deslizando o ideal. Os jogos ficaram muitos parelhos e foram sendo decididos em detalhes mínimos, justamente em virtude das condições diferentes de jogo, as quais fui me adaptando durante o desenrolar do próprio campeonato. Consegui ir me classificando e cheguei à semifinal. Quem seria o adversário? Nada mais, nada menos, do que o Muradian. Para realizar meu sonho, tive que ganhar do meu Mestre no Futebol de Mesa, no último chute de um jogo muito disputado e no qual não acertei um contra-ataque sequer. Foi um dos jogos mais difíceis que disputei na minha carreira toda, principalmente no aspecto emocional. Na final, tive que encarar o Dudu, hoje jogador do Vasco da Gama, que estava jogando muitíssimo bem. Outra partida disputadíssima, os dois extremamente nervosos, embora concentrados. Eventual empate conduziria à decisão por pênaltis. Mais uma vez, eu não acertei nenhum contra-ataque no jogo. Tive algumas chances de abrir diferença e ficar tranquilo, mas não conseguia. Cada vez que eu errava o contra-ataque, o Dudu vinha e fazia o gol de empate. No final do jogo, fiz mais um gol numa bola que chutei da intermediária. O Dudu saiu rapidamente, também chutou do meio e acabou errando. Naquele momento tive a percepção de que deviam faltar aproximadamente uns 30 segundos para o final. Como eu não tinha acertado contra-ataque algum nem na semifinal e nem naquele jogo, pensei apenas em dar os 12 toques, arrumar bem a jogada e, se necessário, chutar uma bola que estivesse mais perfeita possível. No meu sexto toque, a partida acabou. Aí foi aquela choradeira... (risos).

Dudu, Jefferson e Marquinhos - Mundial da Hungria
Seleção no Mundial da Hungria

12 Toques: Qual ou quais Botonistas você admira?

Jefferson: Admiro vários Botonistas com os quais tive o prazer de jogar e de vê-los jogar, mas como eu já disse em outras oportunidades, tenho um ídolo no Futebol de Mesa, que pra mim é o melhor que vi jogar dentre todos: o Muradian. Lembro até hoje quando entrei no Canadá Clube e vi um rapaz em uma mesinha, limpando um time argola azul do Brasil, que tinha o Pelé, com a camisa 17. No mesmo dia, assisti a uma partida dele e fiquei encantado com a técnica, a precisão, a determinação e a vontade de ganhar do Mura. Aquele Pelé com a camisa 17 era terrível… (risos). Daí pra frente, sempre assistia aos jogos do Mura e passei a tentar imitar o jeito dele jogar. Chutei muito de ponta... (risos), até ir crescendo e acrescentando outras jogadas no meu repertório de ataque. Mesmo assim, sempre procuro manter no meu jogo as características essenciais do jogo do Mura e que fazem ele ser um Multicampeão.

Aproveito essa oportunidade para agradecer por tudo o que o Mura fez por mim, pelo exemplo que ele sempre foi, apesar de saber que nenhuma palavra que eu disser ou qualquer coisa que eu fizer para demonstrar isso, possa expressar o que realmente eu sinto.

Peço licença também para fazer uma referência muito especial a outras duas pessoas que deixaram muita saudade: o Lorival (nosso Gepetto), que embora não esteja na categoria Botonista, foi uma pessoa do bem, simples, muito legal, que pra mim foi o melhor fabricante de Botões da história; e ao Edu Henrique, um irmão, que sempre me ajudou muito e me tratou com bastante carinho e amizade.

Jefferson e Mura - Mundial da Hungria
Com Edu Henrique

12 Toques: Qual Botonista você seria se pudesse ser outra pessoa?

Jefferson: Cada Botonista possui características próprias na sua forma de jogar. Por mais parecido que possa ser, nenhum Botonista joga igual ao outro, pois existem os elementos de ordem pessoal que influenciam nas escolhas feitas por cada um durante os jogos. Essa é uma das coisas que engrandecem o nosso esporte e produz tantos Campeões. Gosto de ser eu mesmo e das minhas características como Botonista, que venho procurando lapidar ao longo dos anos nos quais pratico o Futebol de Mesa. Sei que ainda preciso melhorar alguns aspectos do meu jogo, pois a evolução sempre é necessária, e busco isso a cada novo treino, a cada novo campeonato, com a mesma vontade de quando eu comecei a jogar botão.

12 Toques: Quem é seu freguês?

Jefferson: O Michilin sabe que é ele… (muitos risos). De verdade, agora falando sério, não tenho a menor ideia, pois não anoto os resultados dos jogos.

Também nunca fico pensando nisso, porque penso que não adianta nada. Jogo não se ganha de véspera. Entro em cada próxima partida para ganhar, da mesma forma que entrei nas anteriores e assim por diante. A cada jogo e campeonato surge a oportunidade de escrever mais uma história legal. Esse é o meu pensamento.

Uma das Equipes campeãs do Maria Zélia

12 Toques: E de quem você é freguês?

Jefferson: Mesmo sem anotar os jogos, tenho consciência de que já fui muito freguês do Mura, até o momento em que fui crescendo e comecei a equilibrar as coisas. Era complicadíssimo ganhar do Mura. Suava sangue... (risos). Ainda bem que deixei de ser freguês dele já faz um bom tempo... (risos).

12 Toques: Equipes ou individual?

Jefferson: Eu gosto do Individual e do Equipes da mesma maneira.

Ganhar um campeonato individual depende exclusivamente de você jogar o seu melhor e ter êxito sobre todos os adversários que cruzarem o seu caminho. O título, por consequência, representa uma conquista pessoal muito gratificante.

Já ganhar um campeonato por equipes depende de uma conjunção de fatores, não apenas da participação individual de cada atleta, mas também da comunhão de forças em busca de um objetivo comum e da confiança recíproca entre os componentes da equipe. Um tem que acreditar que o outro vai conseguir. Ser campeão por equipes também é muito prazeroso. Uma emoção diferente.

Equipe do Palmeiras

12 Toques: Argola ou fechado? Explique.

Jefferson: Jogo com times argola, pois os considero mais propícios para poder colocar em prática as minhas características e habilidades como Botonista, em especial pela precisão que consigo alcançar no toque de bola e nos chutes a gol. Mesmo assim, não sou refratário a jogar com times fechados. Estou aguardando ansiosamente o time com pin que mandei fazer para poder testá-lo. De repente, se eu conseguir me adaptar bem, pode ter novidade por aí. Aguardem... (risos).

12 Toques: Jogo inesquecível?

Jefferson: São vários jogos inesquecíveis, mas vou escolher um jogo para homenagear um baita jogador de Futebol de Mesa: o Rubinho que jogou no Palmeiras, e também pelas circunstâncias e qualidade do jogo que disputamos.

Na última rodada da final do Campeonato Paulista por equipes, nosso jogo terminou 10x10, com o Rubinho empatando na campainha. Nós deixamos nossa alma e nosso suor naquela mesa. Foi um jogo frenético e disputado com muita garra. Jogamos muito Futebol de Mesa naquela partida.

Com Pedrinho quando começou a dar as primeiras palhetadas

12 Toques: Um gol inesquecível?

Jefferson: Aqui eu vou fazer outra homenagem, para o nosso saudoso Professor De Franco, e por isso vou falar sobre uma sequência de jogadas que foi muito importante.

O Professor De Franco me convocou para compor a Seleção Brasileira que disputou o Mundial de Futebol de Mesa por Equipes realizado no Rio de Janeiro. Na final do campeonato, encaramos a Seleção da Itália.

Eu estava jogando contra o Cesão Zuccato. Jogo encardido, pegado, os dois muito concentrados. No final do jogo, com o placar de 4x3 a meu favor, perco o chute. O Cesão desce no contra-ataque e arruma uma bola muito boa. Acho que todos aqueles que estavam assistindo à partida tiveram a sensação de que era gol certo. O Cesão chuta e... Buffon defende de forma inacreditável. Desço no contra-ataque, com o maior cuidado e no penúltimo toque ajeito a bolinha para chutar ao gol. A bolinha entorta demais e fica mirada muito pra fora, em direção ao escanteio. Para fazer o gol, estava bem complicado. Peço para o gol e me afasto da mesa para dar uma respirada e me concentrar mais. Nesse momento, o Tadeu (Corinthians, também convocado para a Seleção Brasileira) chega perto e me fala: “O Quinho e o Robertinho estão perdendo, o Lucas (América/RJ) está ganhando. Você precisa fazer esse gol, senão perdemos o título”. Respirei fundo e fui chutar. Virei tudo o que podia e mais um pouco, botei força quase quebrando a palheta e chutei. A bola entrou na forquilha (até hoje não sei como). Gol do Del Piero. O Professor De Franco pulou da cadeira e saiu comemorando. Foi muito legal. Brinco que a Seleção da Itália perdeu o campeonato com uma defesa do Buffon e um gol (praticamente impossível) do Del Piero na sequência.

Com a Taça do Mundial por Equipes

12 Toques: E a vigem mais louca que você fez para ir jogar?

Jefferson: Já fiz muitas viagens “loucas” organizadas pelo Michilin... (risos), só que a viagem para o Sulamericano de Rosário bateu todas as expectativas, até pelo fato de que o Michilin teve ajuda do Alex Bahr na logística.

Saímos de São Paulo à noite e chegamos próximo às duas horas da manhã no hotel lá em Rosário, sendo que o campeonato começava às nove da manhã. A recepcionista do hotel nos fala que tem dois quartos apenas para aquela noite. Olho com cara de espanto para o Michilin e o Alex Bahr e ambos me dizem que só tinham reservado o hotel para aquela noite porque tinham certeza de que não haveria problema para permanecermos lá nos demais dias. Eles só esqueceram que também era feriado na Argentina e muitas pessoas viajavam para Rosário nessa época. Ficamos no hotel naquela noite (na qual o Alex Bahr passou em claro procurando outro hotel no celular) e fomos jogar no dia seguinte. Após o campeonato, que rolou na parte da manhã, voltamos para o hotel, choramos e conseguimos que a recepcionista deixasse a gente ficar nos dois quartos por mais um dia. Saímos pelas ruas do centro de Rosário para conhecer e procurar outro hotel. Não tinha vaga em hotel algum. Quando estávamos quase desistindo e já decidindo se iríamos dormir na rodoviária ou no aeroporto, demos de cara com um sobrado com a inscrição “Hotel Bahia”. Entramos rapidamente e conseguimos dois quartos para os dois dias seguintes. Os quartos eram pequenos, tinham uma TV bem antiga e um banheiro, também pequeno. Detalhe: quando ligávamos o chuveiro, molhava a privada e o banho tinha que ser rápido para a água não sair por baixo da porta e entrar no quarto. No final, acabou dando tudo certo e, por incrível que possa parecer, nos divertimos bastante.


PRINCIPAIS TÍTULOS:

Tricampeão Mundial com a Seleção Brasileira;

Campeão Mundial por Equipes pelo Palmeiras;

Campeão Mundial Individual pelo Palmeiras;

Tetracampeão Sulamericano por equipes pelo Palmeiras;

Tricampeão Sulamericano Individual pelo Palmeiras;

Campeão Brasileiro por Equipes pelo Palmeiras;

Tricampeão Brasileiro Individual;

Campeão da Copa do Brasil;

Octacampeão Paulista por Equipes;

Octacampeão do Torneio Início por Equipes;

Tetracampeão Paulista Individual;

Tetracampeão da Taça São Paulo Individual;

Bicampeão do Torneio Rio/São Paulo.

Seleção Brasileira no Mundial de Portugal
Seleção Brasileira Mundial do Rio de Janeiro
Com seu filho Pedrinho
Atual Equipe do Palmeiras

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