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12 Toques com Eliahou

20/05/2020 - Por Marcello Loiacono

Nesta Edição de 12 Toques com Loiacono, eu conversei com um dos Botonistas mais antigos em atividade no Brasil. Eliahou Vidal tem 68 anos de idade, nasceu no Egito na cidade do Cairo, e veio para o Brasil em 1958. Anos mais tarde conheceu o Futebol de Mesa e nunca mais parou de jogar. Confere aí que a entrevista está muito legal.


12 Toques: Como conheceu o esporte federado, e em quais clubes jogou?

Eliahou: Conheci casualmente. O Hideo, amigo de infância, estava fazendo caligrafia na escola do De Franco no início dos anos 60, fazendo aula estranhou que muitas pessoas adentravam a sala de aula e se dirigiam a uma sala nos fundos. Curioso foi averiguar o que acontecia e, qual não foi sua surpresa quando se deparou com várias mesas do nosso esporte. Nós já jogávamos em casa desde 1962, da maneira como a maioria começa, nas mesas de cozinha devidamente demarcadas para nosso esporte. Desse momento em diante passamos a frequentar a escola de caligrafia para nossos jogos e para onde tivesse futebol de mesa. Participei da federação dos anos 60 e também quando o Della Torre a tornou esporte federado. Retornei em 1979 no AREA. Joguei no Paulistano, Juventus, Indiano. Parei durante 10 anos e retornei em 2007 e joguei no Botafogo de Ribeirão Preto, Palmeiras e Cisplatina, onde estou até hoje.

Com seu amigo Hideo
Apitando uma partida em 1967

12 Toques: Qual o título mais importante?

Eliahou: O título mais importante foi a conquista de um Aberto da Gazeta Esportiva em 1967 (considerado na época campeonato paulista) pois a federação promovia esses campeonatos com a nata dos Botonistas federados com a inclusão de dois que viriam de uma seletiva. Eu já jogava com meus amigos De Franco, Hideo e Carlos e resolvemos nos inscrever na seletiva que classificaria os 2 jogadores. Tive a sorte de ganhar a seletiva e também o Carlos se classificou de nosso grupo. Fomos para a fase final, eram 10 Botonistas que jogariam todos contra todos. Iniciamos a competição com jogadores que, na época, eram considerados os tops da federação; devo destacar o Willes, figura antológica; Dr. Newton, advogado e uma pessoa que não gostava de perder; Gilberto um jogador eclético; Flosi meu amigo até hoje, e Aldo Narcisi que, inclusive, foi diretor do basquete no Palmeiras e também um industrial de renome, dono de uma empresa chamada Brastubo; e, não posso esquecer também o tio e o pai do De Franco que eram aficionados tendo, inclusive, disponibilizado uma sala na escola de caligrafia que mencionei anteriormente.

Minha participação se resumiu a nove jogos, sendo 8 vitórias e um empate somente com o amigo Carlos, que coincidentemente foi vice campeão e eu Campeão. A repercussão na época foi muito grande pois como dois pirralhos poderiam estar entre eles e pior, ganhando o torneio, tanto é que o Dr. Newton ao término do torneio quis comprar um botão do Carlos a preço de ouro, somente pelo prazer de quebrar.


12 Toques: E o título mais difícil?

Eliahou: O título mais difícil e o mais buscado foi com um grupo de amigos que se tornaram inseparáveis, o de Campeão por equipes de 1986. Esse título foi perseguido durante 6 anos, fomos nos anos 1981 até 1985 vice campeões paulistas , perdendo sempre para o time, esplêndido por sinal, do São Judas, está aí o Lito (meu amigo desde aquela época) que não me deixa mentir pois ele foi do time em todas as oportunidades. Mas, há algo a relatar que modificou o panorama da mesmice durante todos esses anos, um time que estava em franca ascensão o Maria Zélia. Neste ano nós disputamos o título com o São Judas só que o Maria Zélia tinha se intrometido na disputa e, não lembro bem se também com chance, sei apenas que fomos para a última rodada precisando vencer justamente com o Maria Zélia. Jogo tenso, difícil pois o Maria já era um time de respeito, não lembro como transcorreu, sei apenas que ao término da última rodada foi uma explosão de gritos de contentamento, até os que eram retraídos e tímidos, explodiram no êxtase da conquista. Foi uma noite memorável e principalmente inesquecível pois coroou a luta de um time em busca de seu objetivo.

Equipe do Cisplatina

12 Toques: Qual ou quais Botonistas você admira?

Eliahou: Tenho de militância mais de 50 anos praticando nosso esporte. Vi grandes jogadores: Willis, Aldo, Hideo, Jardim, Lito, De Franco, Vinadé, Gravina, Boris, Muradian, Perrotti, Laguna, Paulo Edson, Mingão, Gercino, Erismar, Justa, Fernando Santos e, com uma menção especial para, Guilherme, Jefferson e o Rubinho, e talvez o melhor de todos Quinho. Da safra atual são muitos. Infelizmente meu contato é pequeno, porém vou me arriscar com alguns nomes: Leandro, Sidney, Tadeu, Victor Varoli, Vinícius, Thiago, Faccio, enfim todos esses merecem minha admiração por terem galgado a posição de grandes jogadores e, principalmente, a de campeões. Devo fazer um parêntese, não coloquei na menção dos melhores jogadores os de meu time o Cispla, temos jogadores de ponta e não os mencionei para não esquecer ou melindrar ninguém. Tenho certeza absoluta que tanto o time principal como o B e o Master, têm jogadores da mais alta categoria e, com certeza, serão campeões brevemente.


12 Toques: Forme um time com 6 Botonistas.

Eliahou: Mauro, Rubinho, Jefferson, Thiago, Victor Varoli, Quinho.


12 Toques: Quem é seu freguês?

Elaihou: A bem da verdade tínhamos uma brincadeira no Paulistano para fidelizar alguns fregueses, e com o passar dos anos a brincadeira se consolidou com o meu amigo Hideo, dito por ele e não por mim, pois ao término de muitas partidas ele me dizia que em minhas partidas com ele tudo dava certo, e a bem da verdade eu sempre joguei com ele de maneira fácil e sem compromisso, pois qualquer que fosse o resultado seria satisfatório.

12 Toques: E de quem você é freguês?

Eliahou: Hoje me considero um jogador que pratica apenas um hobby, então partindo deste pressuposto, sou freguês de muita gente, já não tenho a gana e a vibração de outrora, não é saudosismo é apenas ser realista pois o tempo passa e a juventude tem uma outra percepção do jogo com a fibra de quem procura sempre a vitória.


12 Toques: Equipes ou individual?

Eliahou: É algo difícil de escolher, cada categoria tem seus méritos e necessidades. A equipe se caracteriza pela junção de forças que somadas levam as conquistas, nem sempre é uma verdade pois na conjunção alguns podem não estar bem e com isso não somar para o resultado. No individual é você e apenas você. Portanto a carga emocional é menor pois os resultados serão sempre seus e nunca do grupo, por essa razão minha preferência é o individual.


12 Toques: Argola ou fechado? Explique!

Eliahou: Já joguei com vários tipos de botão: chifre, casca de coco, celuloide e botões de roupa, mas nada se compara ao acrílico que jogamos hoje. Me lembro que quando o Paulo Edson jogava com argolas era difícil vencê-lo. Já tive um time de argola que joguei por quase 10 anos e com ele consegui os melhores resultados da minha trajetória, mas hoje prefiro os fechados, para mim tem maior segurança e jogabilidade, além de serem muito bonitos.

12 Toques: Jogo inesquecível?

Eliahou: Existem dois jogos que me marcaram muito. Um de antigamente e outro do último campeonato que disputei. O de antigamente foi em uma seletiva para o campeonato paulista nos anos 80 que, para me classificar para o campeonato precisava fazer um jogo com o Jefferson no São Judas, ele era um iniciante que buscava o seu espaço e eu já jogava a algum tempo. Lembro perfeitamente de três coisas: todos estavam olhando a decisão, o Jefferson não alcançava todas as posições da mesa e o jogo foi de uma dificuldade atroz, ele talvez sem compromisso jogou demais me criou uma dificuldade absurda e eu não podia perder, afinal era um principiante contra um veterano, imaginem a carga emocional e a responsabilidade, sei apenas que venci por diferença de um gol e, com certeza é uma das passagens inesquecíveis. A outra passagem vou mencionar na resposta seguinte.


12 Toques: Um gol inesquecível?

Eliahou: Campeonato Paulista Master da segunda divisão em 2019. Último jogo precisando vencer, jogando com o Ravanelli e nas mesmas condições o Basílio jogando com o Ivanir, precisava empatar para o campeonato, infelizmente entrei sem concentração e no primeiro tempo perdia por 2 x 0, em contrapartida o Basílio estava vencendo, se não me falha a memória por 3 x 1, de imediato me pareceu que seria mais um vice campeonato. Entrei para o segundo tempo quase sem pretensões, mas fiz um gol e na mesa em frente me pareceu que o Ivanir tinha reagido e feito um gol. Mais algum tempo o Ivanir empatou, me motivei e fiz também empatando o jogo, mas sempre de olho na outra mesa. E, num repente, o Ivanir faz o 4 x 3, final do jogo. Vou para o ataque e passo do meio do campo e peço para o gol, neste exato momento o Basílio também estava quase na intermediária e pediu para o gol, e para maior emoção a campainha toca, final de jogo. Foi um momento inusitado, dois chutes na campainha que decidiria o campeonato. Houve uma hesitação porque ninguém queria chutar primeiro. Pensei, seja o que Deus quiser, se eu fizer ele está obrigado a fazer, se eu não fizer já estava perdido mesmo. Me aprontei e mandei um torpedo que entrou no lado do goleiro por cima. Neste instante a responsabilidade passou toda para ele. Tinha a obrigação de fazer e, nesse momento a mão pesa, chutou e o goleiro do Ivanir fez uma brilhante defesa que ensejou a minha vitória e o campeonato. Inesquecível.

12 Toques: E a viagem mais louca que você fez para ir jogar?

Eliahou: Infelizmente não sou de viajar para competições, durante minha vida de Botonista e na minha melhor fase sempre dei mais valor para ir ver minha namorada, noiva e esposa a 41 anos, ela morava no interior e os nossos campeonatos sempre foram em feriados e, era nesses momentos que eu aproveitava para vê-la. Mesmo de uns anos para cá, viajo para ver minha família no interior. Lembro apenas de uma viajem que fizemos, representando o Cispla, ao Rio de Janeiro para uma competição no Vasco da Gama. Fui com o De Franco, Toninho e Hideo e foi uma viagem sem percalços, muito boa onde pude conhecer a bela equipe do Vasco e também usufruir da companhia dos amigos.


12 Toques: Qual a sua rotina de treinamentos?

Eliahou: Não costumo treinar, vou rotineiramente ao clube no sábado, lá fazemos competições e elas são o meu suporte para qualquer competição.


12 Toques: Qual a dica que você dá para a molecada iniciante?

Eliahou: A primeira e, a mais importante, se apaixonar pelo esporte. Se isso acontece, mesmo que haja paradas para outras coisas, ficará eternamente em sua alma. As outras dicas são as rotineiras: dedicação, foco, treinamento, persistência e saber que isso tudo leva a quase perfeição até o momento em que você consegue atingir seus objetivos. Não existe perfeição, pois mesmo conseguindo chegar ao topo sempre existirá alguém que o sobrepujará.


12 Toques: O que você tem feito pelo esporte?

Eliahou: Não sei se é algo que possa significar uma ajuda, mas, como eu e muitos outros amigos do Master, já com uma certa idade, o que deve servir como exemplo são a dedicação e amor ao esporte. Não será a idade que irá me abater, tenho ainda muito a oferecer como performance e talvez exemplo ao esporte que me acompanha pela vida.


12 Toques: Tem preferência por fabricantes? Joga com time feito por quem?

Eliahou: Já fiz times com muitos fabricantes. Lorival, com certeza, foi o precursor do que temos hoje e infelizmente já não está mais conosco. Hoje a maioria dos meus times são do Pexe.


12 Toques: Você tem algum outro hobby além do Futebol de Mesa?

Eliahou: Sim tenho outro hobby além do futebol de mesa. Toda quinta feira nos reunimos, são oito amigos que gostam do jogo da sinuca, na casa de um tio e fazemos competições. São sorteadas duas equipes de quatro e elas se enfrentam em três turnos. No final da competição a equipe que perdeu paga o jantar para a outra equipe. Além da disputa e das brincadeiras fomenta a amizade que já dura vários anos.

Com a turma da Sinuca

12 Toques: Liste seus principais títulos:

Eliahou: Não tenho muitos títulos, sempre fui um jogador mediano. De toda forma:


. 5 vezes vice campeão Paulista por equipes 1981 a 85

. 1 vez campeão Paulista por equipes 1986

. 2 vezes vice campeão Paulista por equipes em 87 e 89

. Campeão torneio Integração de 1983 no Indiano, seletiva para o Paulista.

. Campeão Copa Paulista Master prata 2011

. Vice Campeão Taça São Paulo Master prata 2012

. Vice Campeão Paulista Master 2ª divisão 2016

. Vice Campeão da Taça cidade de São Paulo Master de 2ª divisão 2019

. Campeão Paulista Master da 2ª divisão 2019

. Devo apenas salientar que jogo desde 1967 e, até 1979 não tivemos federação

Oficial, então joguei em muitas garagens, inclusive na do Nieto onde conheci o Guilherme.

Parei em 1997 retornando apenas em 2007, a convite dos amigos.


12 Toques: Deixe suas considerações finais:

Eliahou: O futebol de mesa é um esporte completo, como dizia meu amigo De Franco, ele exige a destreza manual que constrói a técnica, a frieza de raciocínio e o controle mental que ajuda a sobrepujar o adversário. O treinamento é o que aperfeiçoa seus dotes e o principal é a ética e o saber se portar com honestidade, que para mim é sem dúvida a maior virtude.



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